Aproxima-se o fim do mundo. Este é o último dia das nossas vidas, mas tudo são apenas suposições, há quem acredite e quem não acredite, mas todos pensamos nisso. E numa família pouco convencional, repleta de problemas por resolver, umas horas é pouco tempo. E falhando a comunicação, falha tudo.
"Tele-fonar significa falar de longe. Não conseguir comunicar sem distância. Hoje as pessoas são todas tele-fónicas e tele-visíveis porque são todas perto-fóbicas. Se calhar foi por isso que o mestre decidiu pôr ponto final à brincadeira. Deixou de dar gozo gerir o inferno na Terra, tornou-se tão entediante como um disco riscado, a agulha não sai do sítio, ninguém fode nem sai de cima. Ninguém fode. Ninguém sai de cima, porque ninguém está em cima."
Rui Zink, nesta obra, faz-nos acreditar que realmente o mundo está prestes a acabar, mas de uma forma cómica, e deixa-nos presos por uma necessidade intrínseca de saber o desfecho da nossa própria história. Será mesmo o fim? É este o último livro que lemos? É este o último pensamento que temos? Estamos preparados para o nosso fim? É esta a nossa última oportunidade?
"A juventude perdida é isso mesmo: algo que não volta. Quem apanhou o barco a tempo, parabéns, os outros, os ácidos, os azedos, que se amanhem. Que façam o seu melhor para não se tornarem demasiado ácidos, para não ficarem com as vidas, as vidinhas, as videcas ulceradas até ao fim dos dias. E o fim é nunca se sabe quando. A morte não tem sentido de oportunidade, para ter essa noção era preciso viver dentro do tempo, e a morte é precisamente, por definição, o que está fora do tempo."