quinta-feira, 7 de outubro de 2010

"As velas ardem até ao fim...", Sándor Márai

Esta obra é o reflexo do homem, das suas relações, da amizade, do amor, da traição. Há sempre tantas coisas que ficam por dizer, acontecimentos que não se conseguem explicar, verdades que não sabemos se o são, dúvidas que permanecerão connosco até ao nosso fim. É com o passar dos anos que nos vamos conhecendo e aos outros, que a nossa existência se define e que as coisas adquirem outros significados.

"É a maior tragédia, com que o destino pode castigar o homem. O desejo de ser outro, diferente daquilo que somos: não pode arder um desejo mais doloroso no coração humano. Porque não é possível suportar a vida de outra maneira, apenas sabendo que nos conformamos com aquilo que significamos para nós próprios e para o mundo. Temos de nos conformar com aquilo que somos e ter consciência, quando nos conformamos, de que em troca dessa sabedoria, não recebemos elogios da vida, não nos põem no peito nenhuma condecoração por sabermos e aceitarmos que somos vaidosos ou egoístas, carecas e barrigudos - não, temos de saber que por nada disso recebemos recompensas, nem louvores. Temos de suportar, o segredo é isso. Temos de suportar o nosso carácter, o nosso temperamento, já que os seus defeitos, egoísmos e avidez, não os mudam nem a experiência, nem a compreensão. Temos de suportar que as pessoas que amamos, não nos amem como gostaríamos. Temos de suportar a traição e a infidelidade, e o que é o mais difícil entre todas as tarefas humanas, temos de suportar a superioridade moral ou intelectual de uma outra pessoa.", Sándor Márai

Para quem acha que não é nos livros que se aprende a ser pessoa, este livro é a prova de que "não só, mas também" são os livros que nos ensinam a viver.