Uma obra de grande qualidade, que nos transporta para uma outra dimensão. Ao lermos na primeira pessoa, é inevitável que incorporemos aquilo que estamos a ler e sintamos mais do que seria esperado, sendo que não vivemos, mas sim imaginamos que vivemos através das palavras de alguém que também imaginou viver o que nos é descrito.
Os pensamentos tornam-se realidade ao tomarem a forma de palavras escritas, e a sua imortalidade uma consequência. E não importa a forma como são escritos, mas sim os sentimentos que despertam.
"A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação. O que sinto, na verdadeira substância com que o sinto, é absolutamente incomunicável; e quanto mais profundamente o sinto, tanto mais incomunicável é. Para que eu, pois, possa transmitir a outrem o que sinto, tenho que traduzir os meus sentimentos na linguagem dele, isto é, que dizer tais coisas como sendo as que eu sinto, que ele, lendo-as, sinta exactamente o que eu senti. E como este outrém é, por hipótese de arte, não esta ou aquela pessoa, mas toda a gente, isto é, aquela pessoa que é comum a todas as pessoas, o que, afinal, tenho que fazer é converter os meus sentimentos num sentimento humano típico, ainda que pervertendo a verdadeira natureza daquilo que senti", In O livro do desassossego
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