quarta-feira, 8 de julho de 2009

"O Processo", de Kafka

Ao ler esta obra é impossível o nosso pensamento não remeter para o estado da justiça em Portugal, sendo que as comparações são inevitáveis, não só por semelhanças, mas também por diferenças.
De qualquer modo, alguns aspectos descritos atribuem um carácter de intemporalidade à obra, e uma metáfora da realidade, por vezes hiperbolizada e outras vezes implícita.
“Neste género de discursos o advogado era inesgotável. Repetiam-se em todas as visitas. Havia sempre progressos, mas nunca a natureza destes progressos podia ser comunicada. Trabalhava-se incessantemente no primeiro requerimento, mas não estava terminado, o que, aquando da visita seguinte, se revelava a maior parte das vezes uma bênção, porque, sem que se pudesse prever, a ocasião teria sido particularmente mal escolhida para apresentar o requerimento. Se K., esgotado com estes discursos, observava por vezes que mesmo levando em conta todas as dificuldades, as coisas avançavam com lentidão, mas que estariam sem dúvida muito mais longe se K. se tivesse dirigido ao advogado na devida altura”, In O Processo
É comum dizer-se que todo indivíduo é inocente até que seja efectivamente provada a sua culpa, o que na prática não acontece, dado que a partir do momento em que há uma suspeita, a maior parte das pessoas que rodeiam o individuo passam a olhá-lo com alguma reticência e quando ele diz: “Estou inocente”, a resposta em surdina é: “Todos dizem o mesmo”.
Inocente ou culpado?

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