sábado, 19 de junho de 2010

"Para Sempre", Vergílio Ferreira

Para Sempre. Uma obra de um dos autores que ficará "Para Sempre" na história da literatura portuguesa. A busca por uma palavra, através de tantas palavras que conjugadas se traduzem numa riqueza que só pode ser verdadeiramente percepcionada na experiência de leitura desta magnífica obra. A exploração do que somos e do que nos condiciona.

"Quem sou? Tem piada, não me lembro de jamais mo perguntar - quem sou? E desde quando comecei a sê-lo? Deve ser útil sabê-lo, que é que está dentro de mim? para ao menos saber o que vou entregar à morte. Acaso saberei jamais quem sou? ou o que sou, que é um pouco para cá disso? E que é que sou, fora do que fui sendo? Que é que perdura em mim do que fui sendo? Que é que perdura em mim do que fui sendo? O que sou, é curioso, o que sou é. Não sei. (...)Tenho horror de mim. Precisava de me desfazer em cuspo, em choro e ranho, estoirar-me todo num arranco. E ficar depois a apodrecer. Não me movo. Sou um homem. Tenho obrigações imprescritíveis diante do sexo macho a que pertenço. Como é triste o dever. Queria não ter um dever. Perante quem o dever? Estás só. Baba e ranho se te apetece. E como depois respeitar-me? Tenho um olho viril de mim a fiscalizar-me a desordem. Estou só. Definitivamente até à morte. Estou triste até à morte."

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