segunda-feira, 17 de agosto de 2009

"O que os homens dizem e o que as mulheres ouvem", de Linda Papadopoulos

Todos somos diferentes, agindo de maneiras diferentes com diferentes intenções. Mas há algo que é comum, a necessita de percebermos os outros e encontrarmos justificação para os seus actos. Ao interpretarmos o outro, cometemos muitos erros que conduzem a desilusões e equívocos desnecessários.

As diferenças entre sexos serão sempre apregoadas, e a realidade é que homens e mulheres agem naturalmente de modos diferentes. Este livro torna-se muito interessante ao mostrar situações que acontecem muitas vezes e que são muito engraçadas, mostrando que talvez o melhor seja viver a situações, e não passar o tempo a tentar interpretá-las.

"Como seres sociais, criamos enormes abismos entre o que dizemos e o que os outros ouvem.Isto é verdade para qualquer conversa, mas é particularmente o caso quando a pessoa com quem conversamos é a que mais amamos, aquela que sentimos que melhor deveria compreender-nos. Mas é precisamente no contexto das relações pessoais que precisamos de fazer todos os esforços para nos compreendermos realmente uns aos outros e para percebermos que a forma como interpretamos o que está a ser dito se baseia, em grande parte, em crenças preexistentes, que mantemos acerca de nós mesmos e do mundo que nos rodeia; nem sempre na intenção do outro.", In O que os homens dizem e o que as mulheres ouvem

"Leite Derramado", de Chico Buarque

Quando se chega a uma idade avançada, a mais provável realidade prende-se com a dependência de profissionais de saúde na satisfação das necessidades mais básicas. O sofrimento, a dor, a nostalgia são uma constante, difícil de compreender pelos mais novos e impossível de aceitar pelos que sofrem.
O passado é a única fonte de felicidade, porque o presente pouco ou nada é em termos de qualidade de vida, e o futuro uma palavra que não existe. A memória começa a falhar, por vezes mais do que seria normal.

"Na velhice a gente dá para repetir casos antigos, porém jamais com a mesma precisão, porque cada lembrança já é uma remendo de lembrança anterior.", In Leite Derramado

Mais do que nunca surge a necessidade de ter alguém que ouça as histórias e experiências que há para contar. Os amores e desamores, os ensinamentos, as peripécias, os erros, as traquinices. Infelizmente, o mais comum é já não haver ninguém para ouvir, ou mesmo que haja, mais tarde ou mais cedo acaba por se fartar de ouvir sempre as mesmas histórias. Os profissionais de saúde, são quase sempre o último recurso, a última esperança para quem não tem ninguém a quem falar. Uma enfermeira que surge e dá atenção ao doente que não tem ninguém, é muitas vezes idealizada por este como o amor que há muito perdeu e permite que o seu sonho continue, a sua utopia de voltar a viver o amor e tudo o que ele implica.

"Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta. O ciúme é então a espécie mais introvertida das invejas, e mordendo-se todo, põe nos outros a culpa da sua feiura.", In Leite Derramado

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

"A Senhora das especiarias", de Divakaruni

Uma história com uma grande componente oriental e um gosto requintado das mais fantásticas especiarias, em que a personagem principal renuncia à beleza e à juventude em prol do seu amor pelas especiarias, vivendo numa sociedade completamente diferente daquela de que é originária.
Passa a vida a tentar resistir ao que lhe é proibido, ao amor, ao desejo, à possibilidade de viver com um homem, a sair à rua, a conhecer a realidade do mundo que a rodeia.

"É sempre assim quando penetramos no mundo proibido a que alguns chamam pecado? Dou o primeiro passo, a custo, sem fôlego. O segundo também faz doer, mas já não tanto. Com o terceiro a dor passa pelo nosso corpo como uma nuvem de chuva. Pouca falta para que nos não dê descanso, ou dor.", In A Senhora das Especiarias

Será possível imaginar a vida sem identidade? Ou melhor, sem um nome fixo, que nos identifique desde sempre e para sempre? Mesmo assim, carregar as exigências, expectativas e regras de um nome que nasceu ele próprio contra as regras. Dar mas não poder receber, não parece justo, nem suportável para sempre.

"Todavia, eu nunca fora abraçada. Nem pelo meu pai nem pela minha mãe. Nem pelas mestras minhas irmãs. Nem sequer pela velha, não desta maneira, com os corações colados um ao outro. Eu, Tilo, a criança que nunca podia chorar, a mulher que nunca haveria de chorar. Sorrio por entre as lágrimas quando o aroma da sua pele me enche e o seu bafo quente pousa nas minhas pálpebras. Os meus ossos derretem-se com este desejo de ser abraçada, eu que nunca julgara desejar a protecção dos braços de um homem.", In A Senhora das Especiarias

Por uma experiência, um sonho, por vezes arrisca-se tudo. E neste caso, quem manda na sorte não é a Mestra, mas sim as Especiarias.