sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

"O eterno marido", Fiódor Dostoievski

Quando o sentimento de culpa é uma realidade, qualquer observação por parte do outro pode levar-nos a crer que tem conhecimento de que somos culpados e que não nos confronta por algum motivo inexplicável, ou simplesmente por desejo de vingança.
O amante vive sempre nessa dúvida, nessa suspeição de que o marido tenha conhecimento da traição. A própria morte da figura do pecado, e a distância temporal, não apaga a dúvida constante.
E se o marido sabe e sempre soube, porque permitiu? Ele tem essa vantagem, é o marido, e talvez também essa necessidade, por vezes mais social do que emocional, de ser marido o leve a tolerar muitas coisas que noutro caso não seriam sequer equacionáveis.
Haverá um momento em que é tomada uma decisão fatal?

"(...) a alteração, e mesmo a duplicidade, dos pensamentos e sentimentos durante a insónia nocturna seria um facto geral e próprio das pessoas «que pensam e sentem muito» e que, às vezes, as convicções de toda uma vida mudavam de repente sob a influência melancólica da noite e da insónia: eram tomadas, sem mais nem menos, decisões de carácter fatal; apesar disso, claro, tudo tem os seus limites - se o individuo acaba por sentir em demasia tal duplicidade, a ponto de as coisas chegarem ao sofrimento, isso já é sintoma de doença, pelo que se torna necessário tomar de imediato algumas medidas. O melhor será mudar radicalmente o modo de vida, de dieta ou, até, empreender uma viagem".

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